Perturbação de Ansiedade
A ansiedade é um sentimento vago e desagradável de medo, apreensão, caracterizado por tensão ou desconforto derivado de antecipação de perigo, de algo desconhecido ou estranho. É uma sensação de preocupação, nervosismo ou receio do que poderá acontecer.
Todos sentimos ansiedade e até pode ser útil nalgumas situações, porque nos deixa mais alerta e focados. Mas quando é demasiado intensa, frequente e interfere com o nosso dia-a-dia, é um problema de saúde psicológica, causador de mal-estar e consequências negativas na nossa vida.
A ansiedade pode revelar-se através de manifestações físicas (sentir o coração a bater muito rápido, falta de ar, tonturas, dor de barriga, tensão muscular, dor de cabeça), pensamentos (preocupação constantemente com o futuro, com a possibilidade de falhar ou desiludir os outros; pensar sempre o pior; pensar na mesma coisa e não ser capaz de parar) ou comportamentos (dificuldade em dormir, em relaxar, em concentrar-se; evitamento de pessoas ou locais ou situações difíceis; irritabilidade; afastamento dos outros).
Elaborado a partir de FACT SHEET da OPP
O que esconde a ansiedade?
Um dos aspetos mais difíceis da ansiedade é que esta tende a sobrepor-se a tudo. Instala-se na mente e recusa-se a deixar qualquer outra coisa entrar ou passar. Embora provoque grande dor, a ansiedade nega qualquer tentativa de ser questionada, analisada, sondada ou reconfigurada, deixando o indivíduo apavorado e incapaz de pensar para além do seu próprio terror. O pensamento torna-se pessimista, implacável, repetitivo, como se estivesse bloqueado: voltando repetidamente à questão de saber se a porta ficou trancada, se fizemos log off na página do netbanking ou se a conta da rede social estará a ser objeto de ataque. A ansiedade domina e exclui qualquer outra forma de atividade mental; tudo o que existe na mente é o medo.
Impenetrável e agressiva, a ansiedade limita as nossas capacidades mentais. Mas há uma forma ágil de tentar superar a ansiedade, que passa por fazer uma pergunta, assente no conhecimento de uma das características fundamentais da ansiedade: é que esta constitui, muitas vezes, uma cortina de fumo destinada a impedir-nos de ver qualquer outra coisa, algo que está muito para além daquilo que achamos que nos está a preocupar, algo com que estamos verdadeiramente preocupados ou tristes.
Uma das facetas peculiares de mente é que esta nos permite escolher ficarmos ansiosos em vez de lidarmos com coisas que podem ser ainda mais dolorosas ou emocionalmente difíceis de lidar. Pode ser mais fácil ficar preocupado com algo que se atravessa nos nosso dia-a-dia do que fazer um mergulho profundo em nós próprios, que nos permita conhecermo-nos verdadeiramente.
Podemos ficar ansiosos sobre a hora a que chegaremos ao aeroporto, como uma espécie de fuga de desafios maiores, como o de nos questionarmos se o nosso parceiro ainda nos ama. Ou podemos ficar extremamente ansiosos com uma questão financeira, para evitarmos tomar consciência de algo ainda mais complicado, como a confusão que sentimos em torno da nossa vida emocional. Ou podemos desenvolver uma ansiedade do natureza sexual como alternativa a pensar sobre o nosso amor próprio e a infância que o destruiu. O pânico pode ser chamado a proteger-nos de fontes mais profundas de agonia, que podem advir de uma qualquer tomada de consciência.
Não obstante, é sempre melhor chegar à raiz dos problemas do que inundar a mente com pânicos diversos - e para isso, seria inteligente, em alguns momentos, fazermos esta pergunta simples, mas possivelmente reveladora:
"Se a sua mente não estivesse preenchida com esses pensamentos ansiosos em particular, o que teria para pensar neste momento?" Esta pergunta tão simples é capaz de desbloquear um momento de insight. A resposta poderá ser qualquer coisa como:
- Posso perceber o quão triste e solitário estou...
- Posso perceber o quão zangado estou com meu parceiro...
- Posso perceber o quão abandonado me sinto...
E isso, claro, é precisamente o que devíamos estar a fazer neste momento. Processar todas as coisas que a ansiedade estava a tentar manter afastadas da nossa consciência.
Certas ansiedades podem ser consideradas pelo seu valor facial, na medida em que se relacionam claramente com aspetos preocupantes do mundo à nossa volta. Mas há outro tipo de ansiedades - um largo conjunto - que não tem outro propósito do que não seja o de nos distrair da tomada de consciência e compreensão de partes importantes de nós próprios.
Se precisamos de sofrer - e com frequência sofreremos - o mínimo que podemos fazer é garantir que sofremos pelos motivos certos. Em alguns pontos, deveríamos trocar a nossa ansiedade por algo muito mais importante: um confronto com a verdadeira ambivalência e complexidade da nossa vida - e deveríamos fazê-lo graças a uma pergunta ingenuamente simples:
"Se a sua mente não estivesse preenchida precisamente com estes pensamentos ansiosos, o que teria para pensar neste exato momento?"
Tradução/adaptação do texto The Question We Should Ask Ourselves When Anxious
Como o perfecionismo nos faz adoecer
Existe um tipo de pessoa que, à primeira vista, parece ter um grau admirável de automotivação, meticulosidade e determinação. Acordam de madrugada, raramente tiram férias, e acabam sempre a fazer horas extraordinárias. Os chefes ficam muito impressionados, são constantemente promovidos, as suas notas têm sido excelentes desde o ensino fundamental, nunca faltam a um compromisso nem entregam um trabalho que seja menos do que brilhante.
Gostamos de dizer que estas pessoas têm padrões elevados; podemos até ungi-los com o termo "perfeccionistas". Pode parecer rude procurar aqui quaisquer problemas. Porquê reclamar de uma devoção zelosa à perfeição num mundo conturbado e indiferente? Certamente não poderia haver nada de muito terrível no alto desempenho. O que poderia haver de tão imperfeito no perfeccionismo? A preocupação não é tanto com o trabalho do perfeccionista (os seus destinatários estão numa posição privilegiada), mas com o estado da sua alma.
O perfeccionismo, tragicamente, não surge do amor pela perfeição em si. Tem origem na sensação, muito mais lamentável, de nunca se sentir bom o suficiente. Está enraizado no ódio por si mesmo, desencadeado por lembranças de se ser reprovado ou negligenciado por aqueles que o deveriam ter estimado calorosamente na infância. Tornamo-nos perfeccionistas por causa da sensação primária de sermos indignos; desinteressante, imperfeito, uma deceção, um incómodo. É tão poderoso esse sentimento, tão terrível a sua pressão sobre a psique que estamos preparados para fazer qualquer coisa para o eliminar. Trabalhar fora de horas, fazer o dobro do que qualquer outra pessoa - essas são as ferramentas com as quais se procura limpar um Eu aparentemente indigno. Uma parte da mente promete à outra que a conclusão do próximo desafio trará finalmente a paz.
Podemos ser bons a fingir que as nossas ambições são saudáveis, mas o nosso trabalho tem uma dimensão de Sísifo: assim que fazemos rolar a pedra de trabalho pela colina acima, ela volta a cair. Nunca haverá um ponto de descanso ou uma sensação duradoura de conclusão. Na verdade, estamos mais doentes do que motivados. Não estamos interessados num trabalho perfeito: estamos a tentar escapar da sensação de sermos pessoas horríveis, e o trabalho simplesmente passa a ser o meio pelo qual nos esforçamos para ser toleráveis aos nossos próprios olhos. Mas na medida em que o nosso problema não começou com o trabalho, o trabalho nunca poderá constituir a solução. O verdadeiro objetivo não é, como pensamos, ser um funcionário ou profissional ideal, é sentirmo-nos aceitáveis.
Mas a responsabilidade por uma sensação de aceitação não pode ser entregue a um chefe ou aos clientes ou a um sistema capitalista incessantemente exigente; estes nunca nos deixarão descansar porque é da sua natureza, sem qualquer má intenção, exigir sempre mais. É preciso mudar o sentido de onde a motivação surge. Não estamos interessados em trabalhar com perfeição; estamos a sofrer com a impressão estranhamente intensa de que somos pessoas horríveis - um problema para o qual trabalhar mais não pode ser a resposta.
É preciso perceber que merecemos ser aceites desde o início e que não é culpa nossa se não o fomos. Não nos cabe a nós tentar provar que temos o direito de existir. É de uma exigência desmedida e atroz ter que passar por um referendo sobre a nossa legitimidade pessoal de cada vez que entregamos um relatório, cada exame que temos que passar, cada cliente que temos que atender.
Trabalhar bem é uma meta admirável, mas torna-se um sintoma de perturbação mental quando se torna o disfarce de uma aspiração secreta de corrigir um déficit de amor inicial. Devemos acolher a capacidade de tolerar períodos de preguiça, não porque sejamos ociosos congénitos, mas porque é um sinal de que aprendemos a falar de forma mais gentil connosco e a ficar apropriadamente zangado com aqueles que, no início, não conseguiram aceitar-nos como éramos, sem que apresentassemos um rol de prémios e troféus.
Tradução/adaptação do texto How Perfectionism Makes Us Ill
Ansiedade infantil
A ansiedade e o medo passam a ser reconhecidos como patológicos quando são exagerados, desproporcionais em relação ao estímulo, ou qualitativamente diversos do que se observa como norma naquela faixa etária e interferem com a qualidade de vida, o conforto emocional ou o desempenho diário do indivíduo. Mas ao contrário do que acontece com os adultos, as crianças podem não reconhecer os seus medos como exagerados ou irracionais. A diferenciação entre ansiedade normal e ansiedade patológica passa por avaliar se a reação ansiosa é de curta duração, autolimitada e relacionada com um estímulo ou não. As causas da perturbação de ansiedade infantil são muitas vezes desconhecidas e provavelmente multifatoriais, incluindo fatores hereditários e exposição a ambientais diversos. Na avaliação e planeamento terapêutico dessas perturbações, é fundamental obter uma história detalhada sobre o início dos sintomas, possíveis fatores desencadeantes (ex. crise conjugal, perda por morte ou separação, doença na família e nascimento de irmãos) e o desenvolvimento da criança. Deverá também ser tido em conta o temperamento da criança (ex. presença de comportamento inibido), o tipo de vinculação que ela tem com seus pais (ex. seguro ou não) e o estilo de cuidados paternos destes (ex. comportamentos de superproteção), além dos fatores implicados na etiologia dessas patologias (Castillo et al., 2000).
A ansiedade de separação é caracterizado por ansiedade excessiva em relação ao afastamento dos pais ou seus substitutos, não adequada ao nível de desenvolvimento, que persiste por um mínimo de quatro semanas, causando sofrimento intenso e prejuízos significativos em diferentes áreas do funcionamento da criança ou adolescente. Quando está sozinha, teme que algo possa acontecer a si ou aos seus cuidadores (ex. acidentes, ou doenças), que os afastem definitivamente destes. Como consequência, demonstram uma vinculação excessiva aos seus cuidadores, não permitindo o seu afastamento ou telefonando repetidamente para tranquilizar o seu medo. Em casa, precisam de companhia para dormir e resistem ao sono, que é vivenciado como separação ou perda de controlo. Perante o afastamento dos pais, surgem manifestações somáticas de ansiedade, como dor abdominal, dor de cabeça, náuseas e vómitos. Estes sintomas prejudicam a autonomia da criança, restringem as suas interações e interesses, ocasionando um grande stress pessoal e familiar, com consequências ao nível da autoestima e podendo evoluir para uma perturbação de humor.
No caso da ansiedade generalizada, as crianças apresentam medos excessivos, preocupações ou sentimentos de pânico exagerados e irracionais a respeito de várias situações. Estão constantemente tensas e dão a impressão de que qualquer situação pode ser provocadora de ansiedade. São crianças que estão sempre muito preocupadas com o julgamento de terceiros em relação ao seu desempenho em diferentes áreas e necessitam exageradamente que as tranquilizem e lhes renovem a confiança. Apresentam dificuldades em relaxar, queixas somáticas sem causa aparente e sinais de hiperatividade (ex. palidez, sudorese, tensão muscular). Tendem a ser crianças autoritárias quando se trata de fazer com que os outros ajam no sentido de as tranquilizar. Há algo que as preocupa a todo o momento, não são pensamentos repetitivos sobre o mesmo tema, mas são preocupações constantes que mudam de tema e geram ansiedade. O início desta perturbação costuma ser insidioso, muitas vezes os pais têm dificuldade em precisar quando começou e referem que se foi agravando até se tornar intolerável, altura em que procuram ajuda.