Perturbação de Ansiedade
A ansiedade é um sentimento vago e desagradável de medo, apreensão, caracterizado por tensão ou desconforto derivado de antecipação de perigo, de algo desconhecido ou estranho. É uma sensação de preocupação, nervosismo ou receio do que poderá acontecer.
Todos sentimos ansiedade e até pode ser útil nalgumas situações, porque nos deixa mais alerta e focados. Mas quando é demasiado intensa, frequente e interfere com o nosso dia-a-dia, é um problema de saúde psicológica, causador de mal-estar e consequências negativas na nossa vida.
A ansiedade pode revelar-se através de manifestações físicas (sentir o coração a bater muito rápido, falta de ar, tonturas, dor de barriga, tensão muscular, dor de cabeça), pensamentos (preocupação constantemente com o futuro, com a possibilidade de falhar ou desiludir os outros; pensar sempre o pior; pensar na mesma coisa e não ser capaz de parar) ou comportamentos (dificuldade em dormir, em relaxar, em concentrar-se; evitamento de pessoas ou locais ou situações difíceis; irritabilidade; afastamento dos outros).
Elaborado a partir de FACT SHEET da OPP
O que esconde a ansiedade?
Um dos aspetos mais difíceis da ansiedade é que esta tende a sobrepor-se a tudo. Instala-se na mente e recusa-se a deixar qualquer outra coisa entrar ou passar. Embora provoque grande dor, a ansiedade nega qualquer tentativa de ser questionada, analisada, sondada ou reconfigurada, deixando o indivíduo apavorado e incapaz de pensar para além do seu próprio terror. O pensamento torna-se pessimista, implacável, repetitivo, como se estivesse bloqueado: voltando repetidamente à questão de saber se a porta ficou trancada, se fizemos log off na página do netbanking ou se a conta da rede social estará a ser objeto de ataque. A ansiedade domina e exclui qualquer outra forma de atividade mental; tudo o que existe na mente é o medo.
Impenetrável e agressiva, a ansiedade limita as nossas capacidades mentais. Mas há uma forma ágil de tentar superar a ansiedade, que passa por fazer uma pergunta, assente no conhecimento de uma das características fundamentais da ansiedade: é que esta constitui, muitas vezes, uma cortina de fumo destinada a impedir-nos de ver qualquer outra coisa, algo que está muito para além daquilo que achamos que nos está a preocupar, algo com que estamos verdadeiramente preocupados ou tristes.

Uma das facetas peculiares de mente é que esta nos permite escolher ficarmos ansiosos em vez de lidarmos com coisas que podem ser ainda mais dolorosas ou emocionalmente difíceis de lidar. Pode ser mais fácil ficar preocupado com algo que se atravessa nos nosso dia-a-dia do que fazer um mergulho profundo em nós próprios, que nos permita conhecermo-nos verdadeiramente.
Podemos ficar ansiosos sobre a hora a que chegaremos ao aeroporto, como uma espécie de fuga de desafios maiores, como o de nos questionarmos se o nosso parceiro ainda nos ama. Ou podemos ficar extremamente ansiosos com uma questão financeira, para evitarmos tomar consciência de algo ainda mais complicado, como a confusão que sentimos em torno da nossa vida emocional. Ou podemos desenvolver uma ansiedade do natureza sexual como alternativa a pensar sobre o nosso amor próprio e a infância que o destruiu. O pânico pode ser chamado a proteger-nos de fontes mais profundas de agonia, que podem advir de uma qualquer tomada de consciência.
Não obstante, é sempre melhor chegar à raiz dos problemas do que inundar a mente com pânicos diversos - e para isso, seria inteligente, em alguns momentos, fazermos esta pergunta simples, mas possivelmente reveladora:
"Se a sua mente não estivesse preenchida com esses pensamentos ansiosos em particular, o que teria para pensar neste momento?" Esta pergunta tão simples é capaz de desbloquear um momento de insight. A resposta poderá ser qualquer coisa como:
- Posso perceber o quão triste e solitário estou...
- Posso perceber o quão zangado estou com meu parceiro...
- Posso perceber o quão abandonado me sinto...
E isso, claro, é precisamente o que devíamos estar a fazer neste momento. Processar todas as coisas que a ansiedade estava a tentar manter afastadas da nossa consciência.
Certas ansiedades podem ser consideradas pelo seu valor facial, na medida em que se relacionam claramente com aspetos preocupantes do mundo à nossa volta. Mas há outro tipo de ansiedades - um largo conjunto - que não tem outro propósito do que não seja o de nos distrair da tomada de consciência e compreensão de partes importantes de nós próprios.
Se precisamos de sofrer - e com frequência sofreremos - o mínimo que podemos fazer é garantir que sofremos pelos motivos certos. Em alguns pontos, deveríamos trocar a nossa ansiedade por algo muito mais importante: um confronto com a verdadeira ambivalência e complexidade da nossa vida - e deveríamos fazê-lo graças a uma pergunta ingenuamente simples:
"Se a sua mente não estivesse preenchida precisamente com estes pensamentos ansiosos, o que teria para pensar neste exato momento?"
Tradução/adaptação do texto The Question We Should Ask Ourselves When Anxious
Como o perfecionismo nos faz adoecer
Existe um tipo de pessoa que, à primeira vista, parece ter um grau admirável de automotivação, meticulosidade e determinação. Acordam de madrugada, raramente tiram férias, e acabam sempre a fazer horas extraordinárias. Os chefes ficam muito impressionados, são constantemente promovidos, as suas notas têm sido excelentes desde o ensino fundamental, nunca faltam a um compromisso nem entregam um trabalho que seja menos do que brilhante.
Gostamos de dizer que estas pessoas têm padrões elevados; podemos até ungi-los com o termo "perfeccionistas". Pode parecer rude procurar aqui quaisquer problemas. Porquê reclamar de uma devoção zelosa à perfeição num mundo conturbado e indiferente? Certamente não poderia haver nada de muito terrível no alto desempenho. O que poderia haver de tão imperfeito no perfeccionismo? A preocupação não é tanto com o trabalho do perfeccionista (os seus destinatários estão numa posição privilegiada), mas com o estado da sua alma.

O perfeccionismo, tragicamente, não surge do amor pela perfeição em si. Tem origem na sensação, muito mais lamentável, de nunca se sentir bom o suficiente. Está enraizado no ódio por si mesmo, desencadeado por lembranças de se ser reprovado ou negligenciado por aqueles que o deveriam ter estimado calorosamente na infância. Tornamo-nos perfeccionistas por causa da sensação primária de sermos indignos; desinteressante, imperfeito, uma deceção, um incómodo. É tão poderoso esse sentimento, tão terrível a sua pressão sobre a psique que estamos preparados para fazer qualquer coisa para o eliminar. Trabalhar fora de horas, fazer o dobro do que qualquer outra pessoa - essas são as ferramentas com as quais se procura limpar um Eu aparentemente indigno. Uma parte da mente promete à outra que a conclusão do próximo desafio trará finalmente a paz.
Podemos ser bons a fingir que as nossas ambições são saudáveis, mas o nosso trabalho tem uma dimensão de Sísifo: assim que fazemos rolar a pedra de trabalho pela colina acima, ela volta a cair. Nunca haverá um ponto de descanso ou uma sensação duradoura de conclusão. Na verdade, estamos mais doentes do que motivados. Não estamos interessados num trabalho perfeito: estamos a tentar escapar da sensação de sermos pessoas horríveis, e o trabalho simplesmente passa a ser o meio pelo qual nos esforçamos para ser toleráveis aos nossos próprios olhos. Mas na medida em que o nosso problema não começou com o trabalho, o trabalho nunca poderá constituir a solução. O verdadeiro objetivo não é, como pensamos, ser um funcionário ou profissional ideal, é sentirmo-nos aceitáveis.
Mas a responsabilidade por uma sensação de aceitação não pode ser entregue a um chefe ou aos clientes ou a um sistema capitalista incessantemente exigente; estes nunca nos deixarão descansar porque é da sua natureza, sem qualquer má intenção, exigir sempre mais. É preciso mudar o sentido de onde a motivação surge. Não estamos interessados em trabalhar com perfeição; estamos a sofrer com a impressão estranhamente intensa de que somos pessoas horríveis - um problema para o qual trabalhar mais não pode ser a resposta.
É preciso perceber que merecemos ser aceites desde o início e que não é culpa nossa se não o fomos. Não nos cabe a nós tentar provar que temos o direito de existir. É de uma exigência desmedida e atroz ter que passar por um referendo sobre a nossa legitimidade pessoal de cada vez que entregamos um relatório, cada exame que temos que passar, cada cliente que temos que atender.
Trabalhar bem é uma meta admirável, mas torna-se um sintoma de perturbação mental quando se torna o disfarce de uma aspiração secreta de corrigir um déficit de amor inicial. Devemos acolher a capacidade de tolerar períodos de preguiça, não porque sejamos ociosos congénitos, mas porque é um sinal de que aprendemos a falar de forma mais gentil connosco e a ficar apropriadamente zangado com aqueles que, no início, não conseguiram aceitar-nos como éramos, sem que apresentassemos um rol de prémios e troféus.
Tradução/adaptação do texto How Perfectionism Makes Us Ill
Ansiedade infantil
A ansiedade e o medo passam a ser reconhecidos como patológicos quando são exagerados, desproporcionais em relação ao estímulo, ou qualitativamente diversos do que se observa como norma naquela faixa etária e interferem com a qualidade de vida, o conforto emocional ou o desempenho diário do indivíduo. Mas ao contrário do que acontece com os adultos, as crianças podem não reconhecer os seus medos como exagerados ou irracionais. A diferenciação entre ansiedade normal e ansiedade patológica passa por avaliar se a reação ansiosa é de curta duração, autolimitada e relacionada com um estímulo ou não. As causas da perturbação de ansiedade infantil são muitas vezes desconhecidas e provavelmente multifatoriais, incluindo fatores hereditários e exposição a ambientais diversos. Na avaliação e planeamento terapêutico dessas perturbações, é fundamental obter uma história detalhada sobre o início dos sintomas, possíveis fatores desencadeantes (ex. crise conjugal, perda por morte ou separação, doença na família e nascimento de irmãos) e o desenvolvimento da criança. Deverá também ser tido em conta o temperamento da criança (ex. presença de comportamento inibido), o tipo de vinculação que ela tem com seus pais (ex. seguro ou não) e o estilo de cuidados paternos destes (ex. comportamentos de superproteção), além dos fatores implicados na etiologia dessas patologias (Castillo et al., 2000).

A ansiedade de separação é caracterizado por ansiedade excessiva em relação ao afastamento dos pais ou seus substitutos, não adequada ao nível de desenvolvimento, que persiste por um mínimo de quatro semanas, causando sofrimento intenso e prejuízos significativos em diferentes áreas do funcionamento da criança ou adolescente. Quando está sozinha, teme que algo possa acontecer a si ou aos seus cuidadores (ex. acidentes, ou doenças), que os afastem definitivamente destes. Como consequência, demonstram uma vinculação excessiva aos seus cuidadores, não permitindo o seu afastamento ou telefonando repetidamente para tranquilizar o seu medo. Em casa, precisam de companhia para dormir e resistem ao sono, que é vivenciado como separação ou perda de controlo. Perante o afastamento dos pais, surgem manifestações somáticas de ansiedade, como dor abdominal, dor de cabeça, náuseas e vómitos. Estes sintomas prejudicam a autonomia da criança, restringem as suas interações e interesses, ocasionando um grande stress pessoal e familiar, com consequências ao nível da autoestima e podendo evoluir para uma perturbação de humor.

No caso da ansiedade generalizada, as crianças apresentam medos excessivos, preocupações ou sentimentos de pânico exagerados e irracionais a respeito de várias situações. Estão constantemente tensas e dão a impressão de que qualquer situação pode ser provocadora de ansiedade. São crianças que estão sempre muito preocupadas com o julgamento de terceiros em relação ao seu desempenho em diferentes áreas e necessitam exageradamente que as tranquilizem e lhes renovem a confiança. Apresentam dificuldades em relaxar, queixas somáticas sem causa aparente e sinais de hiperatividade (ex. palidez, sudorese, tensão muscular). Tendem a ser crianças autoritárias quando se trata de fazer com que os outros ajam no sentido de as tranquilizar. Há algo que as preocupa a todo o momento, não são pensamentos repetitivos sobre o mesmo tema, mas são preocupações constantes que mudam de tema e geram ansiedade. O início desta perturbação costuma ser insidioso, muitas vezes os pais têm dificuldade em precisar quando começou e referem que se foi agravando até se tornar intolerável, altura em que procuram ajuda.

A Personalidade Narcísica
Mães narcísicas
O perfil de uma mãe narcisista é muito característico e deixa muitas marcas na personalidade dos filhos, com especial preponderância nas filhas. Culturalmente é muito difícil encontrar compreensão quando o objeto do sofrimento em causa se encontra na figura materna, sendo frequentemente uma vivência muito solitária e mal compreendida pela sociedade como um todo. Apresentaremos de seguida uma lista das particularidades deste tipo de personalidade materna:
É abusiva: Acredita que o título de "mãe" lhe confere imunidade e direitos especiais e inderrogáveis, pelo que é abusiva com a filha tanto do ponto de vista psíquico, como verbal e emocional, retirando daí uma certa compensação pelo facto de sentir incapaz de se amar e aceitar a si própria. Ao ser dependente da aprovação e do amor da mãe, a filha representa a vítima ideal para servir os intuitos e interesses narcisistas. A mãe narcisista manipula a filha através do amor incondicional desta, levando-a a acreditar no suposto papel fundamental e vitalício que a mãe tem no seu bem-estar, seja emocional, psicológico ou financeiro, independente da forma como a mãe a trata.
É a dona da verdade: Tudo o que a mãe narcisista afirma sobre si mesma, os outros e o mundo, defende como uma verdade inquestionável. Mesmo quando expressa ideias infantis e incoerentes, mantém-se inflexível na interpretação que atribui à sua mensagem, não permitindo que as suas afirmações sejam contestadas ou refutadas. Argumentar com uma mãe narcisista torna-se uma tarefa inútil, uma vez que esta não reconhece erros de julgamento ou discrepâncias no seu próprio discurso. A sua "verdade" não se baseia em dados racionais ou objetivos, mas muda de acordo com o seu desejo.
Relacionamentos disfuncionais: Um relacionamento com uma mãe narcisista é marcado por tirania emocional, chantagens e abuso psicológico.
Problemas de identidade: O narcisista tem uma essência fragmentada, sendo inautêntico em tudo o que diz respeito a si mesmo. Pelo facto de possuir um sentido de identidade deficitário, está sempre em busca de estímulos externos para compensar a falta de conteúdo interno.
Autoestima frágil: Nada é mais fácil do que magoar ou ferir os sentimentos de uma mãe narcisista. Isto deve-se ao facto de ter uma ideia distorcida do que significa valorizar-se e amar-se a si própria. Para o narcisista, o valor do ser humano só existe quando reconhecido externamente, através de conquistas, aparência física, talentos especiais, elogios, status financeiro e social. Qualquer desaprovação referente a uma mãe narcisista – sejam as suas posses, estilo ou actos –, é interpretada como um ataque direto à sua pessoa.
Falta de empatia (a característica mais marcante): Os narcisistas são incapazes de se identificarem genuinamente com o sofrimento alheio. A mãe narcisista subestima e ignora conscientemente a dor da sua filha, ao mesmo tempo que exige dedicação incondicional para satisfazer as suas próprias necessidades e carências.
Distanciamento emocional: A mãe narcisista apenas reconhece a validade dos seus próprios sentimentos. Por acreditar que merece um tratamento especial, recusa o envolvimento com as emoções dos outros, agindo de forma fria, seca e distante, sobretudo quando o assunto não a envolve diretamente.
Perfeccionismo: Tudo o que um narcísico faz segue padrões elevados de excelência, motivados pela sua necessidade extrema de validação. A atitude perfeccionista não reflete um talento nato, mas uma insegurança profunda.
Incapacidade de reconhecer responsabilidades: Tudo o que é bom na sua vida é mérito próprio; tudo o que é mau é culpa dos outros. Sentem-se facilmente envergonhados quando os seus defeitos são expostos, protegendo-se a todo o custo.
Vida de aparências: A mãe narcisista preocupa-se excessivamente com a aparência, tentando esconder a sua fragilidade emocional.
Não pede desculpas: Mesmo quando reconhece o seu comportamento abusivo, a mãe narcisista nunca se desculpa.
Provocação de discussões: Por ser emocionalmente instável, provoca conflitos desnecessários como forma de descarregar as suas frustrações.
Famílias disfuncionais: Os narcisistas provêm frequentemente de famílias disfuncionais e acabam por criar uma nova família disfuncional. A mãe narcísica tende a manipular os membros da família, comprometendo a união e estimulando desentendimentos entre todos.
Superioridade: O narcísico acredita que foi colocado no mundo para ser admirado, e destacado dos demais, menosprezando as capacidades dos outros. A filha nunca é valorizada ou reconhecida por ela própria, independentemente dos seus talentos ou realizações alcançadas.
Monopoliza recursos financeiros: Gere os bens familiares como se fossem exclusivamente seus, negando acesso ou controlo aos outros. Mostra-se frequentemente egoísta - o que possui é para uso exclusivo, recusando-se a ajudar ou partilhar com os outros.
Normaliza o sofrimento alheio: A mãe narcisista reage de forma indiferente à dor dos outros, enquanto dramatiza os seus próprios problemas.
Incongruência: A mãe narcisista frequentemente contradiz os valores e princípios que alega defender.
Opiniões extremas: A visão de mundo da mãe narcisista é simplista, julgando tudo e todos de forma exagerada.
Deslumbramento: Enaltece o que é caro e sofisticado, associando-se a elementos que reforcem o seu status social.
Lavagem cerebral: A educação de uma mãe narcisista é, na verdade, uma forma de condicionamento mental. Mesmo após a sua ausência, as palavras e comportamentos abusivos continuam a ecoar na mente das suas vítimas.
Bullying: o bullying – ou intimidação através de agressão verbal ou física – é uma das táticas de abuso narcisista mais eficazes. A mãe narcisista está constantemente a fazer comentários desagradáveis disfarçados de conselhos de mãe dedicada, com o intuito de envergonhar e humilhar a filha. Por se ressentir da sua jovialidade e liberdade, ou de tudo o que lhe confere vantagem ou favorecimento face a ela, reage de forma amarga e vingativa quando se sente ameaçada. Faz comentários sarcásticos e destrói o bom humor e a alegria de viver de quem inveja.
Comportamento infantil: os narcisistas não evoluem com o passar do tempo, pelo que frequentemente comportam-se frequentemente como crianças teimosas ou adolescentes inseguros. Em vez de defenderem os seus argumentos de forma racional, adulta e centrada, recorrem à intimidação, a discussões, a brigas e a chantagens emocionais para convencer os outros a servir os seus interesses, desejos e vontades.
Tem um sentido de direito desmesurado: o/a narcisista, por se considerar especial, usa títulos como "pai", "mãe", "chefe", "marido", "esposa", etc., para exercer influência direta sobre os outros, bem como através da imposição das suas opiniões e do bullying. Os direitos da mãe narcisista vão além da tutela. Acredita ser dona não apenas da aparência da filha, mas também do seu comportamento, atitude e escolhas pessoais. Tem o hábito de rejeitar a identidade, individualidade e autonomia da filha como se fossem completamente descartáveis ou desprovidas de valor real.
Não respeita limites pessoais (uma característica marcante do perfil da mãe narcisista): a mãe narcisista não regista o "não". Está sempre a ignorar a vontade dos outros ou a compelir que façam o que ela deseja. Recusa-se a reconhecer os direitos alheios, como se nada fosse mais importante do que os seus próprios problemas, planos e desejos. Como resultado, trata a filha como um acessório ou uma extensão de si própria.
Fuga da verdade: a verdade, para os/as narcisistas, é cruel. Por viverem a mascarar as suas próprias vulnerabilidades a fim de emanarem uma aparência de superioridade e perfeição permanentes, evitam avaliar a sua condição de forma genuína, "como o diabo foge da cruz". Quando se sentem encurralados por perguntas e observações que visam analisar a razão de tantos conflitos familiares e problemas de relacionamento, a mãe narcisista isenta-se de qualquer culpa, muda o foco de atenção do seu comportamento ou simplesmente recusa-se a considerar os argumentos apresentados, sem dar qualquer satisfação.
Negligência emocional: a mãe narcisista ignora conscientemente os sentimentos dos outros por total falta de interesse. Como apenas o que ela sente merece consideração, reage de maneira fria e indiferente ao sofrimento ou à alegria alheios. Não reconhece que as outras pessoas também passam por momentos difíceis e chega a incentivar que reprimam sentimentos contrários para não ter de se sacrificar pelos outros. Do mesmo modo, não demonstra entusiasmo pela felicidade alheia em momentos de celebração, pois, quando a atenção está voltada para fora de si mesma, o evento perde toda a utilidade.
Depressão (uma característica marcante do perfil da mãe narcisista): mesmo emanando uma aura de superioridade e controlo por fora, por dentro o/a narcisista carrega uma ferida aberta na sua autoestima. Tudo o que diz respeito à verdadeira face do/a narcisista coloca-o/a como um grande candidato/a à depressão, pela sua tendência à autocrítica e ao autodesprezo, assim como pela sua permanente recusa em lidar com sentimentos antagónicos de forma saudável e eficiente. Além disso, a sua incapacidade de amar e tratar-se com complacência perpetua sentimentos de autorrejeição. Como nega as suas vulnerabilidades e problemas emocionais, vive uma vida marcada pela insatisfação. Quando o seu descontentamento se torna generalizado e afeta de forma dramática os seus relacionamentos, muitas vezes de forma irreparável, é finalmente tomada por episódios depressivos.
Mentira descarada: para que se consiga manter como o centro das atenções e fazer apenas o que quer, o(a) narcisista mente, sem qualquer inibição. Mente para se esquivar de responsabilidades, para se proteger e se autopreservar. A mãe narcisista usa da mentira principalmente para perpetuar o abuso emocional e psicológico, como o que exerce sobre a sua filha. Nega ataques verbais e demais atitudes e comportamentos impróprios como se fossem produto de uma imaginação fértil.
Comparação com os outros: porque o amor-próprio falso do(a) narcisista é sustentado de fora para dentro, necessita de estímulos externos negativos para se sentir bem consigo mesmo(a). Para manter a "autoestima", a mãe narcísica está sempre à procura de alguém com mais peso, menos atraente, menos dinheiro, mais idade, desleixado ou infeliz do que ela. Tem uma verdadeira obsessão em exibir os seus atributos e ostentar a sua superioridade sempre que tem oportunidade.
Negligência afetiva: a mãe narcísica não é minimamente carinhosa. Por não ter empatia, raramente trata a filha de forma afetuosa quando esta está triste ou descontente. Não gosta de intimidade nem de proximidade física ou emocional, insistindo em manter alguma distância ou em ser "deixada em paz", para se concentrar exclusivamente naquilo que considera verdadeiramente relevante: as suas próprias vontades.
Presentes estranhos: receber presentes de uma mãe narcísica é uma experiência surreal. Como não reconhece a individualidade nem demonstra interesse pelos outros, a sua perceção dos gostos e preferências da filha é completamente desconectada da realidade. A mãe narcísica compra presentes pensando em si mesma ou na imagem distorcida que tem da filha. O resultado são presentes que frequentemente têm o tamanho, estilo ou cor errados, ou que em nada correspondem ao que a filha desejaria para si.
Oscilações de humor: os narcisistas são facilmente influenciados por sentimentos contraditórios. Como quase tudo pode afetar negativamente a mãe narcísica, num minuto está eufórica e, no outro, completamente devastada. Por não saber lidar com as suas emoções de forma adulta e madura, descarrega constantemente a sua insatisfação nos outros, explodindo para evitar a implosão.
Inveja (uma característica marcante do perfil da mãe narcísica): como o(a) narcisista vive a comparar-se com os outros para se sentir bem consigo mesmo(a), sente uma raiva enorme quando alguém se destaca mais do que ele(a), especialmente em aspetos que admira, como beleza, sucesso financeiro ou popularidade. A mãe narcísica inveja até a própria filha e não suporta quando esta recebe mais atenção ou se torna mais bem-sucedida. Quando se sente ameaçada pela filha, reage com palavras venenosas e não hesita em desmoralizá-la, seja através de agressividade passiva ou de críticas destrutivas e gratuitas.
Comportamentos interesseiros: quando o(a) narcisista precisa de algo, trata os outros de forma inusitada, com consideração e respeito. Quando a mãe narcísica quer que a filha lhe faça ou empreste algo, mostra-se carinhosa e afetuosa, como se fosse movida por um espírito benevolente. Demonstra também um interesse repentino na vida da filha sempre que reconhece uma oportunidade de obter algum benefício para si, como quando esta se relaciona com pessoas de elevado estatuto económico.
Sabota a felicidade dos outros: a mãe narcísica vive a minar o entusiasmo e a alegria dos outros porque não suporta não ser o centro das atenções. Por ser invejosa, não tolera ver a alegria e entusiasmo da filha, já que ela própria nunca está satisfeita com o que é ou com o que tem. Para não ser lembrada da sua infelicidade, neutraliza o entusiasmo dos outros, colocando-os no seu nível. Na companhia da mãe narcísica, a filha sente-se sempre ao seu lado ou abaixo dela, nunca acima.
Guarda rancor: quando alguém magoa o(a) narcisista, esse "erro" fica registado na sua memória. A mãe narcísica não deixa passar nenhum deslize e mantém um "banco de dados" das falhas dos outros. Sempre que a filha não satisfaz os seus desejos ou a acusa de algo, recorre a exemplos passados de "mau comportamento" e apresenta uma longa lista de ocasiões em que foi desapontada. Por outro lado, tem uma memória fraca para os sucessos e qualidades dos outros, especialmente das pessoas que considera uma ameaça.
Problemas de intimidade: como o(a) narcisista é intolerante e recusa-se a aceitar a própria humanidade, cria uma barreira entre os seus sentimentos e a sua verdadeira essência. Age sempre de forma dissonante com o que pensa e sente, comportando-se de forma falsa e pretensiosa, mascarando as suas emoções. Esta rejeição pessoal e emocional impede a criação de relações genuínas e saudáveis consigo mesmo(a) ou com os outros.
Odeia-se a si próprio(a): o maior mito sobre os narcisistas é que "se amam" exageradamente. Na realidade, o oposto é que é verdadeiro. O(a) narcisista não consegue aceitar-se e nutre um profundo ódio por si mesmo(a) por não corresponder à imagem idealizada de perfeição e sucesso absoluto que tenta projetar.
Problemas de relacionamento no trabalho: ter um colega, ou pior ainda, um(a) chefe narcísico é um verdadeiro pesadelo. Sendo extremamente arrogante, trata os outros como inferiores e recusa-se a aceitar qualquer tipo de responsabilidade, tanto em situações de conflito como quando algo em que esteja envolvido não corre bem. É um péssimo colega, pois não tem espírito de equipa. Como chefe, é explorador, insensível, nunca dá crédito ao trabalho dos outros e até rouba as ideias alheias, além de tratar os empregados como subordinados sem valor. A mãe narcísica está constantemente a queixar-se de problemas no trabalho, dado que ninguém consegue suportá-la.
Problemas de relacionamento amoroso: um relacionamento amoroso com um(a) narcisista é uma das maiores desilusões da vida de alguém. Como são mestres do disfarce e possuem capacidades de atuação de alto nível, escondem-se atrás de uma fachada de aparente perfeição. O charme e a suposta autoconfiança do(a) narcisista são, à primeira vista, atrativos, mas quando a máscara cai — ou seja, quando o(a) narcisista consegue o que quer (a atenção ou o controlo sobre o outro) — revela-se a pessoa manipuladora e egoísta que realmente é. Por esta razão, os relacionamentos com narcisistas tendem a ser de curta duração. Quando duram, é porque os parceiros se anulam completamente para manter a relação, muitas vezes por serem tão inseguros e com uma autoestima tão frágil quanto a do(a) narcisista. Quando mantém um relacionamento, tal deve-se ao perfil psicológico e emocional do parceiro, que, por qualquer razão, aceita abdicar da sua individualidade para alimentar o ego gigantesco da/o narcisista.
Passivo-agressividade (uma das características mais marcantes do perfil da mãe narcísica): a mãe narcísica utiliza comentários indiretos maliciosos, como a ironia e o sarcasmo, para espalhar o seu veneno. O seu discurso está cheio de significados ambíguos, destinados a desmoralizar e desarmar a filha ao mesmo tempo. É uma das ferramentas mais eficazes de abuso psicológico, porque disfarça as suas verdadeiras intenções maliciosas com sofisticação.
Leva tudo a nível pessoal: por ser incapaz de refletir objetivamente sobre si própria e de se identificar como uma entidade independente, o(a) narcisista julga tudo e todos em relação a si mesmo(a). É muito difícil fazer a mãe narcísica perceber que o mundo não gira à sua volta e que contém indivíduos com livre-arbítrio e perspetivas próprias. Não aceita críticas, pois discordar dela equivale a rejeitá-la, e considera qualquer autonomia de pensamento como um ataque pessoal.
Falta de escrúpulos: a mãe narcísica mente descaradamente, explora a boa vontade dos outros e abusa psicologicamente sem hesitar. Quando é confrontada, não demonstra qualquer consciência ou remorso genuíno pelas suas ações, nem admite culpa. Em vez disso, recorre às táticas mais baixas para reafirmar a sua posição de superioridade, como manipulação e chantagem emocional.
Abuso de substâncias: por se recusar a enfrentar os seus problemas psicológicos e emocionais de forma aberta e honesta, o(a) narcisista tende a automedicar-se com álcool e drogas. Como nega ter qualquer tipo de problema, prefere o escapismo para obter alívio rápido e imediato do caos interno.
Momentos de lucidez: como a mãe narcísica é humana e não uma máquina, não é continuamente insuportável. Passa por momentos de "lucidez" em que consegue, brevemente, conter o seu comportamento abusivo. No entanto, esses momentos de relativa paz e harmonia são exceções. A norma é o oposto. A dura realidade é que estes breves intervalos de calma aparente são seguidos de longos períodos de tristeza e conflito.
Carácter vingativo: quem contraria um narcísico, paga um preço. Paga com a sua reputação e também com os seus relacionamentos, pois o(a) narcisista não tolera ser questionado(a), esquecido(a) ou abandonado(a). A filha de uma mãe narcísica que "ousa" recusar o papel de figurante e acessório da sua mãe pode enfrentar as consequências de uma campanha maliciosa contra a sua imagem. Assumindo a máscara de mãe-sofredora, usa todos os recursos possíveis para imputar as dificuldade de relacionamento à filha. Protegida pelo estatuto de "Mãe" e recorrendo a frases feitas como "Fiz o melhor que pude", projeta uma imagem de mártir para convencer os outros das suas supostas boas intenções e total inocência.
Michele Engelke