«Furtar-se à dor a todo o custo só pode ser alcançado através do desapego completo, que exclui a possibilidade de experimentar o amor e a felicidade.»Erich Fromm
Reação à perda
O luto é uma reação natural e esperada à rotura de um vínculo, é um processo de elaboração de uma perda significativa, que não se aplica apenas a casos de morte, mas também a outras situações de perda irreversível, como a perda de um relacionamento, de um projeto ou de um sonho.
Não existe luto quando não há interesse pelo que foi perdido. O seu significado é determinado de modo individual, subjetiva e contextualmente por quem a vivencia. O luto acarreta um sofrimento emocional intenso, implicando um processo de reconstrução e reorganização intelectual, emocional e até mesmo social. (Bousso, 2011)
Para Freud, quando se perde um ente significativo, a pessoa é dominada por pensamentos e memórias acerca do objeto perdido. A perceção de que a pessoa amada não regressará, dá lugar à melancolia, marcada por uma dor profunda, falta de interesse pelo mundo, perda da capacidade de amar e inibição geral da atividade.
Lidar bem com o luto significa poder lidar com os sentimentos evocados pela perda e a nova realidade que esta impõe (Bousso, 2011). Aquele que está a viver um luto precisa de tempo para aceitar a realidade da perda, transformar sua relação com a pessoa perdida e sua própria identidade sem essa pessoa.
Bowlby descreveu quatro fases no processo de luto. A primeira fase é o choque onde o indivíduo se recusa a reconhecer a perda. De seguida entra-se na fase de protesto em que o indivíduo procura e anseia pela pessoa perdida. A terceira fase é o desespero que decorre da perceção de que a perda é permanente. A quarta e última fase é a aceitação, que ocorre quando a pessoa se adapta à perda e começa a retomar o funcionamento normal.
A adaptação ao luto é o resultado de uma interação entre duas forças de vinculação opostas: a necessidade de manter a proximidade com a pessoa perdida e a necessidade de desvinculação, para poder investir noutros laços afetivos (Ramos, 2016).
As diversas faces do luto
Luto e estados depressivos
Durante o desenvolvimento, passamos por constantes experiências de perdas. Poderão existir manifestações de luto sempre que alguma coisa for sentida pelo sujeito como "morte", em maior ou menor grau, como acontece numa rotura amorosa ou diante do afastamento de um amigo próximo. As mudanças - de país, cidade ou casa - também são vividas, muitas vezes, como ruturas, desencadeando o mesmo tipo de processo, ainda que de forma mais atenuada. Apesar de satisfeita com a mudança, a pessoa enfrenta, ao mesmo tempo, sentimentos semelhantes aos de quem perde um ente querido.
Quando, para além dos aspetos acima referidos, que caracterizam o processo de luto (tristeza profunda, perda de interesse no mundo externo) se verifica uma afetação da autoestima, autorrecriminações, sensação de vazio, acompanhada de inércia e apatia generalizada, assim como uma persistente incapacidade de fazer um desinvestimento do objeto perdido, poderemos estar perante um processo depressivo. Segundo Freud, no luto, o mundo tornou-se mais pobre, ao passo que no processo depressivo, é o próprio sujeito que ficou empobrecido...
Processo terapêutico
Experienciar o luto significa elaborar a dor e o sofrimento, ter tempo para ressignificar a sua própria existência e estabelecer novas conexões.
O luto é um processo de reconstrução e reorganização diante de uma perda, desafio psíquico que contribuirá para um novo equilíbrio que permita, não necessariamente ultrapassar a perda, mas aprender a viver com ela.
O trabalho terapêutico permite lidar com a perda de forma adaptativa e ajustada, propiciando uma reorganização da visão da pessoa e do mundo à sua volta.